HISTÓRICO
A cidade é sempre um lugar de se olhar de perto. Paredes, muros, prédios, construções limitam nossas visões. O olhar distante, o horizonte, é sempre cerrado pela necessidade do crescimento urbano, da metrópole, do progresso. O progresso nunca esteve intimamente atrelado na prática, a vida humana e é aí que ficamos para trás. O único interesse sempre foi encorpar um sistema de lucros que beneficia a poucos, aumentando a força de trabalho e a desigualdade social.
Darcy Ribeiro em “O Povo Brasileiro” já afirmava num texto intitulado “Distância Social” o seguinte “... as classes ricas e as pobres separam umas das outras por distância sociais e culturais quase tão grandes quanto as que medeiam entre povos distintos”. Quase como um profeta, Darcy talvez jamais imaginaria como um outro distanciamento social – este que vivemos na pandemia da Covid 19 - agravaria ainda mais as distancias sociais do povo brasileiro tanto físicas como econômicas, sociais e culturais. O olhar superficial para si mesmo e sua própria vida, tem demonstrado um afastamento das pessoas para com o outro e assim um enorme descompasso no que diz respeito ao desenvolvimento humano, solidário e coletivo.
O bairro do Bela Vista é moradia para 69.460 pessoas, dentro de uma área de 2,60 km², tendo a maior densidade demográfica da cidade, segundo dados da Prefeitura de São Paulo de 2015. Onde estão todas essas pessoas? Antigas casas e casarões, passam a ser residência não só de uma única família, mas sim de 15, 20, 25. Um quarto é uma casa inteira para uma família com mais de 5 membros. Quase totalmente tombado pelo Patrimônio da Cidade, a relevante política de salvaguardar nossa história a partir das construções, leva o Bela Vista também à um problema urbanístico social. Carros sobem em alta velocidade a 13 de Maio ou seguem pela Santo Antônio. Na rua não se corre mais no brincar de pega-pega ou esconde-esconde. Mas se corre muito se for da polícia, para ofertar drogas ou atrás de alguém que levou o seu celular. No bairro, crianças e adolescentes encontram poucos espaços livres e seguros para lazer, diversão, desenvolvimento e formação como um todo.
É nesta lacuna que o projeto Sol.te – Escola Cultural ganha vida, força e se faz necessário.
Completando 7 anos de existência em 2021, num formato de Oficina Livre de Teatro aos sábados, já tendo atendido mais de 250 participantes, entre crianças e adolescentes, alcançado mais de 2281 pessoas, entre familiares, amigos, colegas, colaboradores, participantes e comunidade em todas as ações realizadas ao longo dos últimos anos, todas gratuitas, compreendemos a gigantesca potencialidade de expandir e crescer: a nós mesmos e principalmente o outro.
Nos interessa que o Teatro - espaço físico - faça parte da vida das pessoas, como um ESPAÇO ELO FACILITADOR. E para nós aqui desse lado da ponte, que nos colocamos a pensar, discutir, refletir e até mesmo agir neste campo de batalha, se fazendo necessário ultrapassar as fronteiras da vida para criar PONTES RELAÇÕES a fim de desfazer crenças limitantes de uma sociedade construída para ser explorada e possibilitar um novo porvir.
Nos interessa uma relação de aproximação e desenvolvimento mútuo. Olhar para o outro e enxergá-lo na sua diversidade.
Acreditar e fomentar um lugar onde tenhamos formação humana baseada no cuidado, na observação, na escuta e que busca caminhos na interseccionalidade para proporcionar novos horizontes a crianças a partir do acesso a arte e a cultura, assim como garantindo direitos, cuidados básicos, relações afetivas, ludicidade, articulação entre:
cuidar, educar e brincar.